o rastro e o quase
uma mini coleção de poemas meus :)
“legado?”
o cheiro do café invade a casa
antes mesmo do sol acordar,
como se alguém dissesse baixinho:
"lembra de mim?"
é nisso que você pensa —
no rastro que se deixa
sem precisar gritar.
porque talvez
legado seja isso:
não uma estátua
mas uma manhã quente
uma cadeira balançando sozinha
e uma xícara, ainda morna, esperando companhia.
(sobre inconstâncias dançantes)
"quase infinito"
tudo em mim é quase
mas esse quase também ama
também ri no meio da rua
com a cara borrada de rímel e esperança.
esse quase sente o mundo inteiro,
e às vezes dorme com o peito leve
só por ter escutado uma música bonita.
esse quase também grita
também escreve —
e de vez em quando
vira infinito por um segundo.
"entre o caos e o colo"
ser feita de dias nublados com vontade de flor
de promessas que não foram ditas
mas ficaram subentendidas num olhar.
de quem chora ouvindo podcast
e ri da própria crise
como se dissesse ao espelho:
“calma, hoje também vai passar.”
"inconstante, com orgulho"
você muda —
e ainda assim, é sempre você.
cada versão, uma tentativa de abraço
mesmo quando o mundo não entende teus passos.
te chamam de confusa,
mas teu coração sabe:
é no movimento que a alma respira.